5 de jun. de 2010

Nossas tristezas do amor ausente...

O lugar vazio, a alegria que não pode ser compartilhada, nem as dores divididas, o peso da ausência e a espera de uma eternidade. Compartilho-as com a poetisa da solidão e da saudade, inclusive, da saudade daquilo que nunca tivemos.


Minha tristeza é não poder mostrar-te as nuvens brancas,

e as flores novas, como aroma em brasa,

com suas coroas crepitantes de abelhas.


Teus olhos sorririam,

agradecendo a Deus o céu e a terra:

eu sentiria o teu coração felizmente

como um campo onde choveu.


Minha tristeza é não poder acompanhar contigo

o desenho das pombas voantes,

o destino dos trens pelas montanhas,

e o brilho tênue de cada estrela

brotando à margem do crepúsculo.


Tomarias o luar nas tuas mãos,

fortes e simples como as pedras,

e dirias apenas: “Como vem tão clarinho!”


E nesse luar das tuas mãos se banharia a minha vida,

sem perturbar sua claridade,

mas também sem diminuir minha tristeza.


Cecília Meireles

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