17 de abr. de 2011

Do silêncio

PSIiuuu...

pois estou em tempo de silêncio, calmaria, isolamento. é preciso saber a hora de sair um pouco de cena, ou ainda, de ficar apenas olhando a pista iluminada de um canto escuro de um lugar qualquer.
silêncio, pois preciso ouvi. e não é fácil ouvir o que não é audível. 
quero encontrar respostas, ouvir canções singelas, poemas cantados por sibilas. quero um pouco de sabedoria. 

(acabei lembrando do poema, da grande dama da sabedoria e da poesia, Sophia de Mello Breyner Andresen, e o reli, porque há momentos em que me socorro nas palavras de alguém, normalmente  as de Clarice ou Caio, mas hoje foi Sophia, e me fez um bem tão grande)


"Pensava também que, se conseguisse ficar completamente imóvel e muda em certos lugares mágicos do jardim, eu conseguiria ouvir um desses poemas que o próprio ar continha em si.
No fundo, toda a minha vida tentei escrever esse poema imanente. E aqueles momentos de silêncio no fundo do jardim ensinaram-me, muito tempo mais tarde, que não há poesia sem silêncio, sem que se tenha criado o vazio e a despersonalização.
Um dia em Epidauro – aproveitando o sossego deixado pelo horário do almoço dos turistas - coloquei-me no centro do teatro e disse em voz alta o princípio de um poema. E ouvi, no instante seguinte, lá no alto, a minha própria voz, livre, desligada de mim.
Tempos depois, escrevi estes três versos:

A voz sobe os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha."



Trecho de: "Arte poética V" - Sophia de Mello Breyner Andresen. Publicado em Ilhas, 1989.

Leia ou ouça o poema completo aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário