31 de mai. de 2012

quase uma "trilha sonora de amor perdido"


L.

Nos primeiros acordes eu reconheci a música. Lembrei-me de um tempo e, sobretudo, de você. No fundo, você e eu, sempre precisamos de "um pouco de atenção". Aquela época era tudo tão novo, eram “dias tão estranhos". Podíamos até não saber quem éramos, mas já sabíamos “do que (ou de quem) não gostávamos”. Quando cantarolávamos as músicas da Legião, eu sempre cantava mais baixo, para te ouvir melhor... até silenciar por completo e deixa você cantando até o fim. Não sabíamos nem mesmo nomear o nó na garganta que aquelas letras nos causavam. Era angústia, mas não a tínhamos provado em grandes doses, então era impossível nomear. Hoje, a letra foi um soco no meu estômago. Veio o nó na garganta. Eu percebi que o tempo passou, deu saudade daquela época, de ti, de todos. Eu chorei. Por você, por mim, por nós. Por tudo o que aconteceu. Você não está mais aqui pra ver "aonde eu cheguei", não foi muito longe, mas enfim, foi o que deu pra arranjar, por enquanto. Já envelheci quase dez anos. Muito mais que as semanas em que "nossas vidas se encontraram" e vivemos aquele "sonho bom", apesar de tudo. Você dizia que daria certo. Eu, realmente, espero que sim. Espero que até onde deu,  tudo tenha saído como você esperava, ou desejava. E, se um dia "nossas vidas se encontrarem", nos divertiremos outra vez. 

22 de mai. de 2012

S.



os olhos dele pousaram nos meus
de forma diferente 
como se quisesse me dizer algo
que tenho esperado ouvir



P.

talvez ela nem saiba, mas os gestos delicados e o olhar doce, cor de mar, me passam a segurança que nuca tive. Ela diz "vai dar certo" e, eu me esforço para ter toda aquela certeza. No fim, só me resta agradecer e constatar que daquele pequeno grupo dos que nunca me decepcionaram ela é um membro ilustríssimo...

13 de mai. de 2012

"Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo..."


Prosa poética

Viviane Mosé

Nunca fui de ter inveja, mas de uns tempos pra cá tenho tido.
As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.
Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.
Aquela que fala do namorado com tanta ternura.
Mesmo das brigas ando tendo inveja.
Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,
Sempre querendo, querendo.
Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.
Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.
Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.
No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança
Do hálito quente do outro. A voz, o viço.
Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,
Expulsar de mim essa Nossa Senhora ciumenta.
Madona sedenta de versos. Mas tive medo.
Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.
Ausência de espelhos que dissolve a falta, a fraqueza, a preguiça.
E me faz vento, pedra, desembocadura, abotoadura e silêncio.
Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,
Onde tudo é grave e único. E me mantive quieta e muda.
E mais do que nunca tive inveja.
Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta
Nem pensa essas coisas. Quem simplesmente ama e é amado.
E lê jornal domingo. Come pudim de leite e doce de abóbora.
A mulher que engravida porque gosta de criança.
Pra mim tudo encerra a gravidade prolixa das palavras: madrugada, mãe, Ônibus, olhos, desabrocham em camadas de sentido,
E ressoam como gongos ou sinos de igreja em meus ouvidos.
Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo.
Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.
Clarice diz que sua função é cuidar do mundo.
E eu, que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,
Não tenho bons modos nem berço.
Que escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.
O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?
Eu, cuja única função é lavar palavra suja,
Neste fim de século sem certezas?
Eu quero que a solidão me esqueça.


12 de mai. de 2012

do que é eterno... ou, para não esquecer

para S. e T.

Não termina assim. Não há fim pra esse tudo que foram vocês. Na verdade, o que fica de impalpável: lembranças, memórias afetivas, sentimentos, ninguém pode apagar. Quando este sentimento é maior que a ignorância e o ódio alheio, aí nada pode destruir. O tempo dissolve, espalha, mas ele persiste. Em cada novo olhar de um casal apaixonado, no abraço entre aqueles que se querem bem ele voltará a brilhar, mesmo que imperceptivelmente. O que tem por base a verdade e o respeito não é nem mesmo trincado pelos equívocos de quem vê a vida em tons de cinza. Guardo comigo a certeza de um real afeto, surgido pelo encontro que há séculos já fora previsto. É isso que permanece, permanecerá o afeto. O afeto e a verdade com que construíram suas vidas ficarão gravados na pele, até que ela se torne pó novamente; na memória, até o momento em que ela se apague, como a chama de uma vela; nos lugares por onde passaram, nos pontos exatos em que pisaram e entrelaçaram as mãos pra assistir o pôr do sol, até o exato momento em que eles não existam mais.  Mas, mesmo assim, não há fim. E a presença continuará a ser sentida por muitos e muitos outonos. Não há fim, pois permanecem sorrindo para aqueles com quem dividiram sorrisos, para quem provaram a força do amor...

p.s. não esquecerei!





2 de mai. de 2012

...para não desistir

Com uma dose extra de coragem, um tanto de forças emprestadas e a loucura que me é peculiar me agarro com todas as forças na esperança...